Seja Aberto Sobre as Suas Motivações

Seja tão aberto quanto possível quanto aos objectos da sua empresa sem contudo comprometer segredos comerciais. Se desejar que o projecto adquira certa característica, diga, que os seus clientes a têm solicitado, diga-o directamente nas listas de distribuição de correio. Se os clientes desejarem manter-se anónimos, como é por vezes o caso, pelo menos pergunte-lhes se os pode usar como exemplos não identificados. Quanto mais a comunidade pública de desenvolvimento souber sobre as razões de querer o que quer, mas confortável ficaram com aquilo que lhe seja proposto.

Isto contradiz o instinto —tão fácil de adquirir e tão difícil de afastar — de que conhecimento é poder, e o de que quanto mais os outros saibam sobre os vossos objectos, mais controlo têm sobre vós. Mas esse instinto estaria aqui errado. Ao advogar publicamente uma característica (uma correcção, ou o que quer que seja), terá lançado as suas cartas na mesa. Agora a única questão é se é bem sucedido na orientação da comunidade para partilhar o seu objectivo. Se não passar do enunciado do que quer, mas não conseguir oferecer exemplos concretos do porquê, a sua argumentação é fraca e as pessoas poderão começar a suspeitar que tem uma agenda secreta. Mas se lhes der alguns cenários do mundo real que demonstrem a razão pela qual a característica proposta é importante isso pode ter um efeito dramático no debate.

Para ver como é que isto ocorre, tenha em mente a alternativa. É demasiado frequente, os debates sobre novas características e orientações são longos e cansativos. Os argumentos avançados pelas pessoas podem resumir-se "eu pessoalmente quero isto" ou o ainda mais popular "na minha experiência como conceptor de software, X é extremamente importante para os utilizadores / algo inútil que não irá agradar a ninguém." Provavelmente a ausência de utilização de dados reais não reduz nem regula estes debates, mas permite em vez disso a deriva cada vez maior sobre o suporte em qualquer experiência de utilizador. Sem alguma vigilância o resultado último é tão provável como não ser determinado pelo mais articulado, ou o mais persistente ou o mais sénior.

Como uma organização com disponibilidade de dados dos clientes, tem a oportunidade de oferecer exactamente essa força de contra-vigilância. Pode ser uma conduta para informação que de outro modo não tinha meios para alcançar a comunidade de desenvolvimento. O facto de essa informação auxiliar os seus desejos não é nada de que o deva embaraçar. A generalidade dos programadores não têm individualmente uma experiência tão abrangente de como o software que escrevem é usado. Cada programador usa o software do seu próprio e idiossincrático método. Em relação aos padrões de uso de terceiros, esses programadores dependem da sua intuição e capacidade de adivinhação, e bem lá no fundo compreendem isso mesmo. Ao providenciar dados reais sobre um número significativo de utilizadores está a dar à comunidade pública de desenvolvimento algo equivalente a oxigénio. Desde que os apresente de modo correcto, eles serão muito bem recebidos e pode propulsionar as coisas na orientação que deseje.

A chave, claro, é apresentar as coisas de modo correcto. Nunca funcionara insistir que tem um grande número de utilizadorfes e porque necessitam (ou pensam necessitar) de uma dada capacidade e por isso a sua solução tem que ser implementada. Em seu lugar deve focar as suas mensagens iniciais sobre o problema e não numa solução determinada. Descreva com grande detalhe as experiências que os seus clientes estão a encontrar, ofereça tanta análise quanta a que tenha disponível, e tantas soluções razoáveis quantas as que consiga pensar. Quando as pessoas começarem a especular sobre a eficácia das várias soluções pode continuar a esboçar sobre os seus dados de modo a ajudar ou refutar o que digam. Pode ter uma solução determinada em mente desde o início mas não lhe dê uma atenção especial de início. Isto não é enganar, é um comportamento normal de um "operador de bolsa honesto". Realmente você só quer resolver o problema; a solução é um mero meio para um fim. Se a solução que preferir for realmente superior, os outros programadores irão reconhecer isso por sí próprios eventualmente —e depois irão por-se a seu lado de sua livre vontade o que é muito melhor que dar-lhes umas chicotadas para que a implementem. (Há ainda a possibilidade de eles pensarem numa solução melhor.)

Isto não quer dizer que é proíbido aparecer a favor de uma solução específica. Mas tem que ter a paciência para ver a análise que efectuou internamente repetida nas lista de desenvolvimento públicas. Não faça entradas do género "Sim, já passamos por isso aqui, mas não funciona devido às razões A, B, e C. Depois de se ver bem o assunto a única forma do resolver é esta..." O problema não é tanto parecer arrogante mas sim o de dar a impressão que investiu uma quantidade (mas, as pessoas presumem que grande) de recursos analíticos ao problema, por detrás de portas. Isto pode fazer parecer que forma efectuados esforços fontes e que talvez se tenham tomado decisões, às quais o público não teve acesso e isto é uma receita para ressentimento.

Naturalmente, você sabe quanto esforço foi devotado ao problema internamente, e esse conhecimento é, de certo modo, uma desvantagem. Coloca os seus programadores num espaço mental diferente das restantes pessoas nas lista de distribuição de correio, reduzindo a sua capacidade de ver as coisas do ponto de vista daqueles que ainda não se debruçaram tanto sobre o problema. Quanto mais cedo puder colocar os restantes a pensarem sobre as coisas no mesmo pé que você, menor será o efeito de distanciamento. Esta lógica aplica-se não só a situações técnicas individuais, mas sim ao mandato mais alargado de tornar os seus objectivos tão claros quanto possível. O desconhecido é sempre mais destabilizador do que aquilo que sabe. Se as pessoas compreenderem porque é que deseja o que deseja, ficam mais abertos a falar-lhe mesmo que não concordem consigo. Se não souberem o que é que faz bater o seu coração, presumem o pior, pelo menos, algum tempo..

Não irá ser capaz de publicitar tudo, claro e as pessoas não esperam isso. Todas as organizações têm segredos; talvez as organizações comerciais tenham mais, as entidades sem fins lucrativos também os têm. Se tiver de advogar um certo trajecto mas não puder revelar nada sobre o porquê, então simplesmente apresente os seus melhores argumentos que puder sob esse constrangimento e aceite o facto de poder não ter a mesma influência que queria na discussão. É um dos compromissos que tem que fazer de modo a ter uma comunidade de desenvolvimento que não esteja na sua lista de pagamento de ordenados.